COMPORTAMENTO
Via de mão dupla: os benefícios colhidos por quem faz trabalho voluntário
Especialista explica como pequenos gestos podem melhorar a saúde mental de quem ajuda o próximo


Fazer a diferença. Esse é o lema de quem dedica um pouco do seu tempo para melhorar o dia de outras pessoas. Mesmo sem esperar nada em troca, os atos voluntários trazem benefícios permanentes para quem os pratica. Ações que vão desde a distribuição de alimentos, roupas e kits de higiene, até visitas a hospitais e asilos, são uma forma ativa de melhorar a saúde mental e desenvolver novas habilidades.
A psicóloga Mayana Sergio explica que, entre os principais benefícios para a saúde mental, estão a redução de sintomas de ansiedade, o fortalecimento da autoestima, a melhora nas relações interpessoais e o autocontrole emocional. Além disso, o voluntariado alivia o sentimento de vazio e estimula o autoconhecimento, reforçando o valor pessoal de quem se dedica.
Embora as boas atitudes transformem a vida de todos, a psicóloga ressalta que o simples ato de ajudar e ser ajudado pode trazer avanços significativos para pacientes com algum quadro psicológico.
Sob a orientação de profissionais, pessoas diagnosticadas com depressão, ansiedade, transtorno de personalidade e dependentes de álcool ou drogas exercitam hábitos positivos. A prática voluntária é uma forma de desenvolver habilidades sociais, como a empatia e a escuta ativa, o que resulta em satisfação pessoal e redução do estresse.
O contato com pessoas de diferentes realidades contribui para a expansão da visão de mundo, permitindo que o voluntário se sinta parte de um grupo social e consciente de seu papel como cidadão. "Essa interação proporciona uma visão mais expansiva, ajudando a quebrar estereótipos e preconceitos, além de ampliar a empatia e valorizar a diversidade, humanizando a forma de estar no mundo, tornando a pessoa mais consciente de sua própria posição na sociedade", destaca a psicóloga Mayana.
A nutricionista Chiara Lima, de 53 anos, se dedica ao voluntariado há cinco anos. Junto com o grupo do Centro Espírita Herculano Pires, ela entrega cestas básicas e refeições para pessoas em situação de rua. Segundo ela, o voluntariado impactou por completo sua percepção de vida e trouxe muitos ensinamentos, tornando-a mais agradecida, empática e consciente da desigualdade social. "Você começa a perceber o quanto você tem, o quanto você é rico e o quanto a gente tem que ser grato o tempo todo por ter o nosso cantinho, por ter um lençol para dormir, uma cama para se deitar. É algo que não tem preço", fala.

A ação proporciona experiências comoventes e de um valor imensurável, que vão além da entrega de alimentos. "A gente não leva só o alimento que vai nutrir esse ser humano, levamos um pouco de esperança, de paz, e de acolhimento também. Para que eles se sintam vistos, sintam um olhar diferente, porque durante todo o tempo eles são muito discriminados", destaca a voluntária.
A generosidade genuína é o que move as redes filantrópicas. Sem pessoas que doam seu tempo e recursos, não seria possível disseminar o bem e apoiar causas sociais tão importantes. Esse sentimento é a alma da iniciativa Rede Feminina de Combate ao Câncer, criada em 1974 por um grupo de senhoras que levavam lanches para os pacientes oncológicos em tratamento na Santa Casa de Maceió.
Hoje, a rede cresceu e conta com mais de 100 voluntárias. Sem fins lucrativos, os projetos têm como objetivo contribuir para o bem-estar das pessoas diagnosticadas e oferecer assistência tanto para os pacientes e seus familiares.
São servidos semanalmente 1.250 lanches aos pacientes em tratamento de quimioterapia e radioterapia na Santa Casa. As voluntárias também confeccionam próteses mamárias para as pacientes mastectomizadas, além de almofadas especiais para pacientes acamados.
A presidente da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Vitória Basílio, enxerga de perto o impacto positivo do voluntariado na vida dos pacientes com câncer. "Somos um apoio social, uma sustentação psicológica, afetuosa e amiga durante o tratamento de câncer, como também para as suas famílias", diz.
As maiores dificuldades enfrentadas pelas entidades não governamentais são a captação de recursos, que dependem da boa vontade das pessoas. Para contornar esses obstáculos, Vitória explica que a rede é inovadora e realiza eventos, produzem artesanato e acessórios, e ainda tem um brechó, onde vendem roupas e sapatos doados. Felizmente, há também apoiadores que patrocinam a casa e ajudam a suprir algumas necessidades.
Para os interessados em participar e melhorar o dia de alguém, é preciso comparecer à Casa de Apoio Lenita Vilela, localizada no centro de Maceió, para conhecer os projetos e se cadastrar no que mais se identificar.
Para a presidente, a sensibilidade do voluntariado está no ato de se colocar no lugar do outro. "Devemos olhar sempre para o outro como se fôssemos nós que ali estivéssemos. O câncer tem cura e o maior cuidado que devemos ter é com a prevenção. Nosso trabalho de voluntário é um elo a mais na corrente do amor e da solidariedade”, completa.