Mais Conforto, Menos Vergonha

Nos últimos anos, tem crescido o número de academias, estúdios e centros de treinamento pensados exclusivamente para o público feminino. Esses espaços surgem como resposta a uma demanda cada vez mais evidente: muitas mulheres buscam ambientes em que possam se sentir mais à vontade, respeitadas e acolhidas durante seus treinos. A tendência não se limita apenas às grandes capitais e hoje já é possível encontrar estabelecimentos desse tipo também em cidades de médio porte, impulsionando um novo olhar sobre o bem-estar feminino dentro do universo fitness.

Entre os principais motivos que levam mulheres a optarem por esse tipo de academia, estão fatores como ciúmes do companheiro, vergonha do próprio corpo, baixa autoestima e, principalmente, episódios de assédio. Muitas relatam sentir-se constantemente observadas ou julgadas em academias mistas, o que gera desconforto e, em alguns casos, as afasta completamente da prática de exercícios.

A exclusividade do ambiente feminino, por outro lado, proporciona uma sensação de segurança que faz toda a diferença para quem está começando ou retomando a rotina de treinos.

Luana Gomes, de 37 anos, sabe bem disso. Ela diz se sentir muito mais confortável e à vontade treinando somente com outras mulheres e justifica a escolha de se exercitar em um ambiente formado exclusivamente por pessoas do sexo feminino com os constantes casos de assédio ocorridos nas academias e também com a falta de empatia dos homens, que não gostam de revezar máquinas, por exemplo.

“Já tive várias experiências negativas em academias mistas, como a de alguns homens pararem para ficar me olhando treinar. Além disso, os homens sempre se acham melhores e não gostam da questão dividir máquinas. Com mulher, é muito mais fácil de lidar! Sem sombra de dúvida, em um espaço exclusivo só para mulheres podemos ser quem realmente somos, sem nos preocuparmos com olhadinhas ou piadinhas que alguns homens gostam de soltar, nos deixando mais reservadas e desanimadas”, afirma.

MOTIVAÇÃO

Além de tudo isso, a identificação com outras mulheres em situações semelhantes contribui para o fortalecimento da autoestima e da motivação. Em academias femininas, é comum haver maior liberdade para usar roupas mais confortáveis e se movimentar sem receio. Algumas ainda oferecem programas personalizados voltados para as necessidades femininas, como treinos para saúde hormonal, fortalecimento pélvico, preparação para gestação e recuperação pós-parto, tornando o atendimento mais sensível e direcionado.

A escolha por um espaço exclusivamente feminino também favorece o fortalecimento da comunidade entre mulheres. Muitas dessas academias incentivam a troca de experiências, o apoio mútuo e a valorização das conquistas individuais, criando um ambiente onde o foco está no desenvolvimento pessoal, e não na competição estética. Isso contribui diretamente para o bem-estar mental e emocional, que são tão importantes quanto os benefícios físicos da atividade.

Mais do que uma moda passageira, a tendência dos espaços fitness para mulheres reflete uma necessidade real de transformar o ambiente de treino em um lugar acolhedor e seguro. Seja para quem busca saúde, estética ou equilíbrio emocional, esses centros vêm ganhando o coração de muitas mulheres por serem sinônimo de liberdade, empoderamento e respeito, valores que devem ser sempre prioridade, dentro e fora das academias, mas que nem sempre são.

A educadora física e dona de um estúdio voltado somente para o público feminino, Renata Bessoni, conta que o negócio nasceu há três anos, motivado pela procura das mulheres por um espaço onde pudessem se sentir mais à vontade para treinar. “As queixas delas são sempre as mesmas: os casos de assédio ocorridos na academia e o ciúme dos maridos”, conta a profissional.

Ela destaca que outro ponto importante é a questão da autoestima. Muitas mulheres que procuram o espaço buscam elevar a confiança em si mesmas ou chegam com diagnóstico de depressão e ansiedade. E é no exercício físico e compartilhando suas histórias com outras mulheres que elas apresentam uma melhora na condição de saúde.

“Todas as mulheres que nos procuram reclamam de autoestima baixa e, após começarem os treinos conosco, percebemos uma grande melhora nelas. Várias chegam com ansiedade ou até depressão e melhoram por meio do exercício físico”, relata.

Como diferencial, além da presença exclusivamente feminina, está a atenção que é dada às alunas, com treinos específicos para mulheres e adaptações para cada necessidade. “A atividade física é importante para a saúde da mulher em todas as idades, inclusive durante a gestação e pós-parto. Ela ajuda a prevenir doenças, a fortalecer os ossos, a controlar o peso e a melhorar a qualidade de vida”, conta Renata.

No CT das Gatas, na parte alta de Maceió, comandado por Maysa Galvão e idealizado por ela, junto com o marido, o educador físico Anderson Alves, a principal preocupação é, justamente, a atenção dada às alunas de forma individual, de forma que elas se sintam acolhidas e estimuladas a se dedicarem à atividade física.

Maysa conta que a ideia de abrir um espaço com esse perfil surgiu ainda durante a pandemia da Covid-19, quando ela começou a treinar em casa. Ela diz que sempre treinou em academia mista, mas se sentia desconfortável com os olhares que lhes eram direcionados e na hora de fazer alguns exercícios. “É mais fácil pensar em uma solução quando você faz parte desse problema. Abrimos a academia para suprir a demanda existente. Aqui, temos mulheres atendendo mulheres que estão cansadas das demandas do dia e precisam de um incentivo”, afirma.

“O nosso diferencial é o atendimento. As meninas falam muito sobre a falta de atenção nas academias mistas e dizem que o acompanhamento é feito de forma muito superficial. Às vezes o aluno está fazendo errado e não chega ninguém para corrigir, o que acaba resultando em lesões. É como se você tivesse que chegar na academia já sabendo treinar. Fora a questão da privacidade. Aqui nós temos uma forma de falar diretamente para a mulher. Tudo é pensado para elas, nas necessidades dela, na forma como elas gostariam de ser tratadas. E eu noto muito as mudanças. Como acompanhamos bem de perto as turmas, a autoestima e a autoconfiança ficam visivelmente mais elevadas. São mulheres que não conseguiam se olhar no espelho e não se cuidavam porque não se sentiam bem consigo mesmas. E aqui elas começam a mudar a mente delas, pois não é só sobre o treino, tem a questão do ambiente onde elas estão inseridas, onde encontraram estímulos para continuar”, destaca.

A assistente de vendas Sayonara Alcântara, de 37 anos, conta que não tinha motivação para treinar em uma academia mista e que encontrou no espaço só para mulheres o impulso que precisava para inserir, de forma definitiva, a atividade física no seu dia a dia. Há dez meses ela frequenta um desses espaços e diz se sentir mais livre e em uma “nova fase”.

“Com certeza, a diferença está em dividir o mesmo espaço com pessoas que têm algumas percepções iguais a você, que no fundo estão buscando algo que está perdido. Estar no espaço só para mulheres nos faz ver que somos pessoas normais e que não precisamos nos cobrar tanto, pois existem outras mulheres que também têm a mesma dificuldade de se aceitar como é. Minha vida mudou muito, eu me olho hoje e vejo o quanto eu estava me perdendo e machucando a mim mesma. Aprendi a me cuidar, a me aceitar, aprendi a nunca mais deixar essa mulher maravilhosa se perder novamente", conclui.