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PRAIA DO FRANCÊS

O paraíso alagoano das ondas agora é Reserva Nacional do Surf

Chancela foi conferida após avaliação de vários critérios; objetivo é implantar ações que promovam a conservação dos ecossistemas e o incentivo à prática do esporte

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Reserva busca incentivar a prática do surf no Francês
Reserva busca incentivar a prática do surf no Francês | Foto: Wellington Alves/Secom Marechal Deodoro

Alagoas conta com uma das quatro Reservas Nacionais do Surf validadas no país. Trata-se da Praia do Francês, em Marechal Deodoro, conhecida por suas ondas tubulares, que são ideais para a prática do esporte. O título foi conquistado no final do ano passado e o objetivo é que, a partir de agora, ações voltadas para a conservação ambiental e o incentivo à prática do surf sejam intensificadas na região.

Para conquistar o reconhecimento, a Praia do Francês precisou atender a alguns critérios, como a qualidade, consistência e relevância das ondas; as características sócio ecológicas do ecossistema de surf; cultura, história e desenvolvimento do surf no local, e engajamento comunitário, capacidade de governança e sustentabilidade da reserva.

Além do Francês, em Marechal Deodoro, o Brasil também conta com a Reserva do Surf Itamambuca - Ubatuba/SP; a Reserva do Surf Moçambique - Florianópolis/SC e a Reserva do Surf Regência - Linhares/ES.

O Programa Brasileiro de Reservas de Surf pode ser considerado um marco que busca transformar a relação do país com o esporte e o meio ambiente costeiro. Sob a coordenação do Instituto Aprender Ecologia, em parceria com a Conservação Internacional - Brasil, a iniciativa foi elaborada com base no Programa Mundial de Reservas de Surf, criado pela Save the Waves Coalition, e nas Reservas Nacionais de Surf da Austrália, e considera o potencial do surf como vetor para a sensibilização e o desenvolvimento sustentável da costa brasileira.

Em Alagoas, a classificação como reserva tem provocado um movimento entre os surfistas e gerado expectativa na comunidade que, em sua maioria, sobrevive do turismo na região. Após a conquista do título, vários passos já foram dados, como a formação da coordenação local e do Comitê Consultivo Local da reserva. O próximo passo é a realização de oficinas com a comunidade da praia para elaboração do Plano de Gestão da Reserva Nacional Surf Praia do Francês.

A missão é fazer com que a praia, situada no município de Marechal Deodoro, seja reconhecida, valorizada e tenha suas ondas icônicas conservadas, assim como seus ecossistemas, sempre aliando o esporte à conservação.

De acordo com a professora doutora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e embaixadora da Reserva Nacional do Surf do Francês, Rusi Almeida, a praia alagoana se destacou na Chamada Pública que escolheu as reservas brasileiras por seus diferenciais únicos para a prática do surf. Ela conta que, entre os meses de março e junho, ocorre a temporada dos tubos, quando a praia oferece uma onda tubular perfeita, extremamente desejada por surfistas que buscam manobras de alto desempenho.

“Além da qualidade da onda, outro grande diferencial é o conjunto de ecossistemas interligados que influenciam diretamente na formação dessa onda ideal. A barreira de corais, a restinga, o brejo e o coqueiral desempenham um papel fundamental na dinâmica costeira, contribuindo para a manutenção das condições oceânicas e a preservação da paisagem natural. Por fim, a presença de um monumento histórico na praia adiciona um valor cultural e cênico ao local, reforçando a conexão entre a história da região e a prática do surf, tornando a Praia do Francês um território único tanto para o esporte quanto para a conservação ambiental”, afirma a professora Rusi, que é idealizadora do projeto e responsável por inscrever a Praia do Francês na Chamada Pública promovida pelo Instituto Aprender Ecologia.

O título de Reserva Nacional de Surf tem validade de dois anos a partir do chancelamento oficial, que ocorrerá em maio de 2025. A continuidade dele dependerá do cumprimento dos objetivos estabelecidos no programa, incluindo a gestão eficaz da área, a implementação de ações de conservação e o engajamento da comunidade local na proteção dos ecossistemas e na valorização do surf como patrimônio natural e cultural.

“Caso os objetivos sejam alcançados dentro desse primeiro período, a reserva pode ser renovada e fortalecida com novas estratégias de gestão e ampliação das iniciativas de proteção. O desempenho da reserva será monitorado por meio de indicadores ambientais, sociais e esportivos, garantindo que o local continue atendendo aos critérios exigidos pelo programa. Queremos promover a conservação ambiental, o turismo sustentável e a valorização cultural em locais de relevância para o surf no Brasil, além de focar na preservação dos ecossistemas litorâneos e marinhos, que são essenciais para a formação das ondas de qualidade e para a manutenção da biodiversidade”, pontua Rusi.

E para que a questão ambiental seja trabalhada de forma integrada, no próximo mês de maio o núcleo executivo do Programa Brasileiro de Reservas de Surf estará na Praia do Francês para realizar oficinas com a comunidade e fazer análises de campo. O objetivo é diagnosticar os principais desafios ambientais da área e definir um plano de gestão que contemple ações de preservação dos ecossistemas, como a barreira de corais, a restinga, o brejo e o coqueiral, que desempenham um papel essencial na formação da onda tubular perfeita.

“A partir dessas oficinas e análises, será elaborado um plano de atividades que orientará a gestão da reserva, garantindo que a conservação ambiental caminhe lado a lado com a valorização do surf e o envolvimento da comunidade local”, completa a professora.

A expectativa é que o título também atraia surfistas vindos de todo o país, dos iniciantes aos mais experientes, pois há um fortalecimento da identidade da praia como um polo do esporte. Isso tende a estimular a formação de novas gerações de surfistas e o crescimento de escolinhas e projetos socioeducativos ligados à prática esportiva.

“Além disso, a visibilidade gerada pode incentivar investimentos em infraestrutura voltada para o surf, competições e eventos que movimentam a economia local”, completa Rusi.

No perfil do Instagram da reserva, está sendo disponibilizado um link para assinatura de um abaixo-assinado que tem o propósito de embasar a importância da preservação dos ecossistemas da Praia do Francês, demonstrando que a proteção da área não é apenas um desejo de uma única instituição, mas sim de toda uma comunidade que se preocupa com seu ecossistema costeiro. “Esse documento fortalece o diálogo com o poder público, reforçando a necessidade de reconhecimento oficial dessas áreas como zonas prioritárias de conservação no Plano Diretor de Marechal Deodoro, garantindo sua proteção para as futuras gerações”, fala.

Para fortalecer ainda mais as ações voltadas à preservação e conservação do Francês, a coordenação da reserva solicitou à equipe responsável pela atualização do Plano Diretor de Marechal Deodoro algumas iniciativas, como a manutenção das Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) conforme descritas no Plano Diretor vigente, de 2006, assegurando a preservação dessas áreas naturais, além da criação de uma Área de Especial Interesse de Surf (AEISurf) dentro dessa zona, assegurando o reconhecimento formal dos ecossistemas que foram fundamentais para que a Praia do Francês recebesse o título de Reserva Nacional de Surf.

Caso isso se concretize, Marechal Deodoro se tornará o primeiro município do país a incluir uma Área de Especial Interesse de Surf em seu Plano Diretor, estabelecendo um precedente para a gestão sustentável de áreas costeiras voltadas ao surf.

A coordenação da Reserva Nacional de Surf Praia do Francês é liderada por Rusi Almeida. Também integram a equipe os advogados Antônio Rocha e Marta Traldi. Além do núcleo da coordenação, a reserva conta com cerca de 15 conselheiros consultivos, que representam diferentes setores da comunidade local, como associações, ONGs e moradores tradicionais.

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