loading-icon
Gazeta FM
NO AR | Maceió

Gazeta FM

94.1
quarta-feira, 05/03/2025 | Ano 91 | Nº 5916
Maceió, AL
31° Tempo
Home > Caderno B

LITERATURA

Morre Affonso Romano de Sant’Anna, escritor e poeta brasileiro, aos 87 anos

Autor era casado com a escritora Marina Colasanti, que faleceu em janeiro deste ano

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp
Imagem ilustrativa da imagem Morre Affonso Romano de Sant’Anna, escritor e poeta brasileiro, aos 87 anos
| Foto: LINA FARIA

O escritor e poeta brasileiro Affonso Romano de Sant’Anna morreu na manhã de ontem (4), aos 87 anos. O autor, que morava no Rio de Janeiro, foi diagnosticado com Alzheimer em 2017.

Ele estava acamado havia quatro anos e era casado com a também escritora Marina Colasanti. Ela morreu em janeiro deste ano, também aos 87 anos. Affonso deixa uma filha, a atriz e cineasta Alessandra Colasanti, além de um neto.

O velório do escritor será realizado nesta quarta-feira, 5, das 11h às 14h. O evento ocorre na Capela Histórica do Cemitério da Penitência, na cidade do Rio de Janeiro.

Em nota à imprensa, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) lamentou a morte de Affonso Romano de Sant’Anna. “Sua trajetória literária e intelectual marcou a cultura brasileira ao longo de décadas. Affonso Romano destacou-se pela sensibilidade e profundidade com que abordava temas sociais, culturais e políticos. Como presidente da Fundação Biblioteca Nacional (1990-1996), foi um grande incentivador da leitura e da valorização do livro, contribuindo significativamente para o fortalecimento do setor editorial no Brasil”.

Nascido em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, o autor escreveu mais de 60 livros ao longo de seis décadas de carreira. Seu primeiro livro a atingir um público amplo e ser celebrado pela crítica foi Que País É Este?, cujo título vem do principal poema da coletânea, publicado em uma página inteira do Jornal do Brasil.

“Uma coisa é um país/outra um ajuntamento.// Uma coisa é um país,/ outra um regimento.// Uma coisa é um país, outra o confinamento.// Mas já soube datas, guerras, estátuas/ usei caderno ‘Avante’/ – e desfilei de tênis para o ditador./ Vinha de um ‘berço esplêndido’ para um ‘futuro radioso’ e éramos maiores em tudo/discursando rios e pretensão.// Uma coisa é um país,/ outra um fingimento.// Uma coisa é um país/outra um monumento.// Uma coisa é um país,/ outra o aviltamento”, dizia o texto.

O trabalho como poeta convivia com o do ensaísta e pesquisador dedicado a estudar a obra de outros autores, como Carlos Drummond de Andrade – sobre quem lançou o livro O Gauche no Tempo –, Jorge de Lima e João Cabral de Melo Neto (que foi tema do livro Entre Drummond e Cabral, no qual ele explora a relação entre os autores, no limiar entre a filiação a um determinado fazer literário e a elaboração de uma identidade própria).

O interesse pela arte da escrita também se faz presente na coletânea de ensaios A Cegueira e o Saber, em que discute a criação de autores como Gustave Flaubert, Marcel Proust, André Gide e Clarice Lispector, entre outros. Muitos de seus textos foram publicados na imprensa, em veículos como o Estadão. Em outubro de 2011, por exemplo, questionou o modo como o meio literário entendia a criação.

“Há no espaço artístico, aquilo que há mais de quarenta anos tenho chamado de luta pelo poder literário. Uma das manifestações mais sutis e alcandoradas disto está numa reminiscência monárquica (e redutora), que faz com que se pense que um poeta esteja passando o cetro a um outro. Lembrança seródia, talvez, da síndrome do ‘príncipe dos poetas’ ou do ‘poeta da corte’, como era antigamente.”

Em 2011, ele lançou Sísifo Desce a Montanha, em que reflete sobre a passagem do tempo e a finitude. “Como o próprio autor assinala, um livro de poemas não deve simplesmente ser uma coleção de textos aleatórios, e sim resultado de um projeto que se pode esgotar ali ou ter prosseguimento. Nem sempre o que um poema diz corresponde a uma realização”, escreveu sobre a obra no caderno Sabático, do Estadão, em novembro de 2011, o jornalista, professor e crítico Moacir Amâncio.

“Mas isso ocorre neste livro, sólido em sua temática, uma longa reflexão fragmentária sobre as variações da vida e a unicidade da morte. São interrogações, notas líricas, de um eu lírico que vibra com o que poderíamos chamar de epifanias para o bem e para o mal, com o distanciamento da ironia e do humor inteligente”, completou.

Relacionadas