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quarta-feira, 05/03/2025 | Ano | Nº 5916
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HISTÓRICO

Com 'Ainda Estou Aqui', Brasil conquista seu primeiro Oscar

Tema universal, momento favorável, carisma e talento de Fernanda Torres, apoio massivo do público: o que fez ‘Ainda Estou Aqui’ trazer a estatueta de Melhor Filme Internacional

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Imagem ilustrativa da imagem Com 'Ainda Estou Aqui', Brasil conquista seu primeiro Oscar
| Foto: THE ACADEMY

O silêncio que se fez no bairro no momento em que os indicados a Melhor Filme Internacional eram citados no palco, segundos antes do grande anúncio, simboliza o significado da vitória de Ainda Estou Aqui na 97ª edição do Oscar, nesse domingo (2). Era a mesma quietude da respiração presa diante da cobrança de um pênalti que vale um Mundial. A bola balançou as redes. Um País inteiro vibrou com o golaço de Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello, que lembraram ao Brasil que cinema também pode ser paixão nacional.

Além da qualidade técnica e narrativa do filme brasileiro, a campanha de Ainda Estou Aqui foi fundamental para que mais membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS) se interessassem e assistissem o longa. A vibração verde e amarela na internet, claro, foi imprescindível para pavimentar esse caminho até a vitória. São mais de 10 mil votantes. Entre eles, 200 latinos. Entre os latinos, 50 brasileiros.

O momento histórico também favoreceu o longa de Walter Salles. Se o roteiro em si traz uma história brasileiríssima, com memórias de um pesadelo coletivo que ainda reverbera nos dias atuais e assombra os amantes da liberdade e da democracia, o tema do filme é universal e se relaciona de forma estreita com o que o mundo vive hoje: o avanço do autoritarismo, de narrativas populistas e radicais, que se valem das pautas de costume para, aos poucos, escravizar pessoas e fomentar guerras.

Fernanda Torres foi o rosto da campanha do filme na imprensa internacional
Fernanda Torres foi o rosto da campanha do filme na imprensa internacional | Foto: THE ACADEMY

Em uma reportagem do Estadão, publicada pouco depois do anúncio que nos fez vibrar, o crítico Luiz Zanin Oricchio e a jornalista Beatriz Amendola também analisaram o fenômeno brasileiro. Ele cita, inclusive, que Parasita, vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2020, escancarou uma mudança progressiva na Academia.

“Há uma tendência de se abrirem as portas para essas novas vozes que estão sendo ouvidas”, afirmou. “No final, a Academia só ganha, porque encontra novas histórias, histórias muito potentes, como é o caso de Ainda Estou Aqui”.

O fato de o público brasileiro ter colaborado com a repercussão e ter ido aos cinemas assistir a Ainda Estou Aqui (mais de 5 milhões até agora) fez com que o longa chegasse com força ao Oscar.

“Isso foi notado por veículos de comunicação internacionais”, comentou Beatriz. “As pessoas começaram a notar mais o filme e a entender a relação dele com o público brasileiro nesse momento tão polarizado. O filme foi percebido como algo que conseguiu se sobrepor a tudo isso”.

Para Zanin, “cinco milhões de pessoas indo ao cinema em uma época em que está difícil trazer o público de volta para as salas é uma verdadeira proeza”.

Segundo o crítico, o grande mérito do filme foi tratar de um momento tão denso com certa “leveza”. Era o drama de uma família - e esse é também um tema universal.

Imagem ilustrativa da imagem Com 'Ainda Estou Aqui', Brasil conquista seu primeiro Oscar
| Foto: THE ACADEMY

Beatriz Amendola ainda afirmou que foi justamente por esse motivo que o filme se conectou ao público internacional. “São países que não necessariamente tiveram a vivência que o Brasil teve na ditadura, mas que entendem a dor daquela mulher, a dor daquela família, o luto, a perda... São temas universais”, disse.

Luiz Zanin comentou que, na sua opinião, dos dez indicados ao prêmio de Melhor Filme, Ainda Estou Aqui se destacava entre os quatro melhores longas da seleção. “Ele estaria extremamente categorizado para vencer nessa situação, se fosse levada em conta apenas a qualidade da obra”, afirmou.

COM A PALAVRA, O VENCEDOR DO OSCAR

Um dia após ganhar o Oscar de Melhor Filme Internacional com Ainda Estou Aqui – o primeiro do Brasil –, o diretor Walter Salles refletiu sobre como o filme tem servido de alerta aos perigos do autoritarismo em outros lugares do mundo, incluindo os Estados Unidos.

“A gente está vendo um processo de fragilização crescente da democracia, e esse processo está acelerando cada vez mais”, disse o cineasta.

“Voltei de um almoço e as pessoas vieram falar comigo sobre isso, sobre como o filme lhes pareceu próximo do momento presente nos Estados Unidos”, contou. “E eu diria que não é só aqui; também, de uma certa forma, ecoa o perigo autoritário que hoje grassa no mundo como um todo”.

Ele prosseguiu: “Acho que estamos vivendo um momento de extrema crueldade, vendo a prática da crueldade como forma de exercício de poder. Acho isso profundamente inquietante”.

BRASIL NA TORCIDA

Durante a premiação, o Brasil parou. Torcidas organizadas lotaram bares, inclusive em Maceió. A Marquês de Sapucaí, no Rio, interrompeu os tradicionais desfiles das escolas de samba para acompanhar a cerimônia. Bloquinhos fizeram uma pausa estratégica para torcer por Ainda Estou Aqui e por Fernanda Torres. Nas ruas, no Carnaval de Salvador, por exemplo, multidões assistiam ao Oscar em telões ou eram informados pelos puxadores dos trios elétricos sobre o andamento do cerimonial. No fim, o país inteiro vibrava pelo primeiro Oscar do Brasil e gritava: viva o cinema nacional.

VENCEDORES

Além do Oscar para o Brasil na categoria Melhor Filme Estrangeiro, a premiação foi marcada pela vitória de filmes independentes, como Flow (Animação) e No other land (Documentário). Fernanda Torres não levou o Oscar de Melhor Atriz, que ficou Mikey Madison, do filme Anora. Inclusive, foi o longa de Sean Baker o grande vencedor da noite, levando também Melhor Filme, Direção, Montagem e Roteiro Original. O Oscar de Melhor Ator ficou com Adrien Brody, por O Brutalista. Conclave levou a estatueta de Roteiro Adaptado.

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