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Nº 5699
Opinião

Civilização .

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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 23/04/2024 - Matéria atualizada em 23/04/2024 às 04h00

Segundo a maioria dos antropólogos, o ser humano deixou de ser um mero animal e iniciou o seu processo de civilização quando deixou de ser apenas um esforçado caçador-coletor nômade sempre em busca do alimento onde ele estivesse e iniciou-se na agricultura, o que o lhe proporcionou alimentos regulares mas também o manteve agregado a um determinado local.

Segundo a consagrada antropóloga Margareth Mead, todavia, o primeiro sinal concreto de civilização é um fêmur cicatrizado encontrado em uma região remota, datado de milhares de anos. Segundo Mead, qualquer animal que sofresse uma fratura óssea seria abandonado por seus iguais e fatalmente morreria naturalmente ou vítima de outros animais. Neste sentido, Ortega y Gasset escreveu: “Civilização é, antes de mais nada, vontade de convivência”.

Contudo, estas visões otimistas atualmente estão submetidas à polêmicas. No Brasil, tivemos a pandemia de Covid-19 - que ainda faz vítimas fatais – e o que vimos foi não só o negacionismo da ciência, mas um agressivo ativismo antivacinas, além de ataques mórbidos às medidas de afastamento social, ao uso de máscaras, assumidas até mesmo por profissionais de saúde. O resultado: mais de 700 mil mortes, muitas das quais evitáveis caso a ciência fosse respeitada.

Nos EUA, inicia-se o primeiro dos 4 processos contra o ex-presidente Trump, cujo resultado pode proporcionar um condenado por fraudes contábeis (caso vença as próximas eleições) na Casa Branca, que passaria a ser o presídio onde cumpriria pena. Ele poderia perdoar a si mesmo? A legislação norte-americana não prevê essa situação e muito menos com lidar com ela. Segundo Albert Schweitzer: “A nossa civilização está condenada porque se desenvolveu com mais vigor materialmente do que espiritualmente; seu equilíbrio foi destruído”.

No Oriente Médio, a guerra inicialmente restrita a Israel x palestinos, como era inevitável, escala para o Irã, ouriça o mundo e o barril de pólvora permanente que é aquela região, embora ainda monitorada pelos grandes atores da geopolítica mundial (EUA e China), ameaça sair de controle e mesmo que não evolua para o pior, as consequências na economia mundial podem ser devastadoras.O único beneficiário seria a Rússia de Putin. E é isso, a economia, e somente isso, que pode fazer com que os moderados de ambos os lados contenham os radicais, que precisam do confronto para se manter no poder.

Foi do Millôr Fernandes a frase: “Chama-se civilização o esforço conjunto da humanidade durante milhões de anos para se autodestruir estupidamente”. Temos nesse cesto heterogêneo chamado humanidade uma variada galeria de figuras que, se nos deu Margareth Mead e Schweitzer, nos deu também Donald Trump, Netanyahu e Putin, entre outros de igual têmpera. A esperança são somente os moderados do Ocidente e do Oriente que ainda existem.

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