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Nº 5693
Cidades Chuvas deixaram centenas de pessoas desalojadas e desabrigadas em Alagoas

FANTASMA DA ENCHENTE DE 2010 VOLTA A ASSOMBRAR ALAGOANOS

As chuvas que caem no Estado trazem estragos e a lembrança da tragédia ocorrida há doze anos

Por MAYLSON HONORATO | Edição do dia 28/05/2022 - Matéria atualizada em 28/05/2022 às 04h00

Quase 12 anos depois, o fantasma da enchente de 2010, que arrasou municípios de Alagoas, volta a assombrar quem viveu aquele fatídico 18 de junho. Com as fortes chuvas que castigaram o estado esta semana, ficou difícil não lembrar da correria, do medo e das perdas causadas pelas águas. Agora, o temor é de que algo semelhante aconteça, o que foi descartado pelas autoridades. A professora Iara Alves, de União dos Palmares, conta que a enchente foi sua pior experiência. Ela lembra que, em uma noite, perdeu tudo o que construiu a vida inteira. Nesses dias chuvosos, diz que não consegue escapar das lembranças e do medo. “A enchente está sempre na nossa mente. Chove, a gente lembra. Esses dias, com o rio enchendo, todo dia aumentando o volume, não tem como não lembrar de tudo o que a gente viveu. Foi o pior período dos meus 60 anos de vida”, relata. Dona Iara morava em uma casa localizada a 85 metros de distância do Rio Mundaú e, segundo ela, com mais de três metros de altura. Emocionada, narra como a água invadiu a residência, que também estava servindo de abrigo para os moradores da região. “É a casa no ponto mais alto lá da região e com 3 metros e 40 de altura em relação ao rio. Como é distante, estávamos despreocupados, nunca imaginamos que a água fosse chegar ali. Saímos de despreocupados a desesperados em uma tarde”, diz. “Menino, pra você ter uma ideia, a água ia subindo e as pessoas que moram mais embaixo estavam se abrigando lá em casa. Teve um momento em que havia 50 pessoas dentro da casa, fugindo da água. Quando deu 23h, tivemos que quebrar o muro de trás pra continuar fugindo, porque a água entrou. Daí pra frente foi subindo até de manhã e a gente fugindo”, narra Dona Iara, que lembra do que perdeu. “Saí de lá sem lenço e sem documento, só com os cachorros. Graças a Deus, conseguimos reconstruir e, se brincar, hoje temos até mais do que antes”.

MEDO

Dona Efigênia dos Santos, de 58 anos, mora em Viçosa, na mesma casa em que residia na época da enchente. Ao ver o Rio Paraíba cheio e a chuva persistente dos últimos dias, ela resolveu ir para a casa da irmã. “O medo é muito grande. Me lembro daquela época com muita tristeza, porque a gente perdeu quase tudo, deu pra salvar uma cama de casal, um sofá e uma geladeira só”, diz. Margareth Leão, também de União dos Palmares, não teve a vida diretamente afetada pela enchente de 2010, mas viu tudo ir rio abaixo na enchente de 2000. “Quem vive isso, vive um trauma, nunca esquece. Essas chuvas me encheram de preocupação, porque, naquela época, passamos nove anos construindo e, em dois dias, perdemos tudo”, recorda. “São sequelas físicas e emocionais, eu desenvolvi problemas de saúde por causa daquele tempo. E tem uma lembrança forte do que se perdeu. A Rua Demócrito Gracindo e a Rua Jatobá, aqui em União, desapareceram na água”, relata Margareth. “É uma dor que não sara, que fica. É muito doloroso procurar um lugar que faz parte da nossa vida e ela não existir”, completa.

ENCHENTE DE 2010

A enchente de 2010 atingiu 26 cidades e fez 15 municípios decretarem estado de calamidade pública, segundo balanço da Defesa Civil Estadual. Foram 27 mortes, 29 desaparecidos e mais de 53 mil desabrigados. A cidade de Branquinha foi completamente arrasada e, inclusive, mudou de lugar para evitar que o desastre se repetisse. Apesar das inundações, alagamentos e deslizamentos registrados em diversos pontos do Estado e do medo de ver as histórias se repetirem, a situação atual é diferente da de 2010. No dia 26, autoridades e técnicos descartaram que algo da magnitude da última enchente volte a assolar os alagoanos atualmente.

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