Produtividade
Criação de camarão avança no Agreste e transforma a rotina de produtores rurais
Cadeia produtiva fatura mais de R$ 5 milhões e se desenvolve com iniciativa apoiada pelo Sebrae, FAO e Ministério da Pesca


A água salobra de riachos e poços em regiões rurais de Alagoas, que tinha pouca serventia para as culturas agrícolas mais comuns nessas localidades, hoje oferece oportunidade para desenvolver propriedades em Arapiraca, Coité do Noia, Igaci e Limoeiro de Anadia. Imprópria para o consumo humano devido à salinidade, essa água agora abastece tanques de criação de camarão, que se multiplicam como uma nova promessa de prosperidade para quem vive da terra.
A cadeia produtiva da carcinicultura vai de vento em popa. Apenas no último ciclo, foram produzidas quase 230 toneladas de camarão em Alagoas, gerando um faturamento bruto de R$ 5,3 milhões.
Em Arapiraca, tudo começou com uma ideia do engenheiro de pesca e empresário Iury Amorim, que buscava um produto com alto valor agregado e forte demanda. Ao retornar de um mestrado no Paraná, em 2016, decidiu apostar na iniciativa que já vinha dando certo no Ceará e no Rio Grande do Norte, investindo no primeiro tanque de camarão — mesmo diante da descrença de muitos. “Até minha mãe dizia: o que um engenheiro de pesca faz em Arapiraca, que nem água tem?”, relembra.
Mesmo sem grandes promessas, a experiência foi tão bem-sucedida que, nove anos depois, a Associação dos Criadores de Camarão de Alagoas (Accal) já conta com 200 membros. Iury, que preside a entidade e também é consultor do Sebrae, explica que os erros e acertos dos seus primeiros tanques escavados comprovam o pioneirismo da iniciativa na região. “Essa fazenda foi o laboratório da carcinicultura no Agreste. É simbólica, porque foi aqui que surgiram os primeiros manejos e adaptações para a nossa realidade”, afirma.
A evolução do setor veio acompanhada de obstáculos. A criação de camarão vivia um boom nos anos de 2019 e 2020, mas os negócios foram diretamente afetados pela pandemia. O fechamento de bares, restaurantes e hotéis — principais compradores do camarão produzido na região — fez o preço despencar, causando grandes prejuízos. No ano seguinte, quando a economia começava a se recuperar, a doença da mancha branca arruinou ciclos inteiros de produção, levando muitos produtores à beira da desistência. No entanto, os desafios foram superados e a carcinicultura resistiu, atraindo cada vez mais produtores rurais.
“É uma cultura que veio para salvar o sertanejo. A gente pega um camarão do Pacífico, cria com baixa salinidade no interior do Nordeste e consegue produzir o ano inteiro”, explica Iury, ressaltando que os ciclos de produção duram cerca de três meses, o que garante um retorno financeiro mais rápido.
Somente no povoado Poção, são mais de 20 produtores atuando na carcinicultura. Nos últimos três meses, eles receberam diagnóstico e acompanhamento técnico por meio do Programa de Cooperação Técnica (PCT) — uma iniciativa conjunta do Sebrae, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e do Ministério da Pesca, com o objetivo de fortalecer a aquicultura familiar. “Ter um engenheiro de pesca visitando a propriedade já é a melhor coisa do mundo. Mesmo num projeto curto, muita coisa melhorou e ainda vai melhorar”, afirma Iury, que é um dos beneficiários do programa. Entre os avanços, ele cita a organização da área e maior eficiência no cumprimento de rotinas que antes passavam despercebidas. “O plano de ação que recebi está ajudando bastante. Agora é seguir e implantar tudo”, ressalta.
